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A receita do afeto de Maputo para o Mundo: quando nos redescobrimos no olhar dos mais vulneráveis

"Moçambique mostrou-me um povo bondoso e perseverante graças à sua fé, ensinou-me a agradecer pelo que tenho, a colocar os lamentos de lado e a lutar..." afirma Mafalda Cruz, estagiária inov contacto da 23ª edição.
A receita do afeto de Maputo para o Mundo: quando nos redescobrimos no olhar dos mais vulneráveis
Fim de semana na Praia do Bilene

Mafalda Cruz | C23 | Bluepharma | Maputo, Moçambique

A receita do afeto de Maputo para o Mundo. Ingredientes moçambicanos: 300g de paciência; 200g de boa disposição; 150g de disponibilidade; 100g de sorrisos; 75g de coco; 50 g de resiliência, de castanha de caju e de amendoim; 10 mg de piri-piri. Juntar todos os ingredientes, mexer com calma e deixar a repousar durante 6 meses...

Alguns meses em Moçambique preenchidos por olhares de uma sensibilidade e doçura rara, por um povo de mãos abertas pronto a ajudar com o pouco de que dispõe e de uma tranquilidade inabalável perante toda a escassez e corrupção que a um país de tamanha riqueza assiste. Tudo isto me ensinou a relativizar, a olhar para dentro e, permita-me a minha humildade admitir, a evoluir como pessoa.

Em Moçambique é comum ter-se empregada(o) doméstico diariamente. Horácio tornou-se desde logo o nosso ajudante, deveras profissional, com uma família para sustentar, cujos filhos só via ao fim de semana por chegar sempre tarde a casa. Ainda assim trabalhava com enorme afinco e dedicação. A sua força tocou-me, fez-me rever o que é essencial e sentir compaixão, fez-me querer ajudar a um nível nunca antes sentido.

Teresa, a funcionária de limpeza da empresa, mostra todos os dias a sua simpatia e palavra amiga, apesar do sacrifício e do pouco que recebe. Deixo com ela um vestido e levo o seu carinho que engrandeceu o meu coração e me fez colocar de lado o meu mau feitio, ensinou-me a dar mesmo quando a vida não me sorri.

Amaral, um professor doutorado, sociólogo, um amigo moçambicano com quem troquei das conversas mais profundas e inteligentes, caminhávamos juntos pela Avenida Julius Nyerere, a avenida “chique” de Maputo.

Boa Vida, o porteiro do prédio, com os seus 60 e poucos anos de idade, faz a vigília noturna pernoitando numa cadeira ao relento, sendo de uma clemência e humildade que é de cortar a respiração. É sabido que trabalha 12 horas seguidas, vive longe, ganha apenas o suficiente para comer ou alimentar a sua família, e que, por vezes, passa fome. Mas ainda assim recebe-me sempre com prontidão e um sorriso no rosto. Com ele troquei umas castanhas de caju, umas bananas e umas palavras pelo seu sorriso e bem-estar.

Lion and Safari Park, África do Sul

Moçambique mostrou-me um povo bondoso e perseverante graças à sua fé, ensinou-me a agradecer pelo que tenho, a colocar os lamentos de lado e a lutar, a aceitar o presente com esperança e de que o amanhã será mais risonho, ensinou-me a partilhar, a dar o meu melhor e a viver com calma, sem pressa, diria até...a saber viver.

"Dar é receber, Mafalda"

Jogo de Basketball entre Club Ferroviário de Maputo vs Costa do Sol