2 min read

As aprendizagens que advêm do choque cultural

Miguel Epifânio, inov contacto na 23ª edição, estagiou em Riade e conta-nos como foi estimulante adquirir competências que o prepararam para o seu futuro profissional.
Edifícios modernos e trânsito em Riade
Riade

Miguel Epifânio | C23 | Embaixada de Portugal | Arábia Saudita | Riade

Em fevereiro de 2019 foi-me proposto um desafio exigente mas também entusiasmante, estagiar no departamento comercial da Embaixada de Portugal na Arábia Saudita, um país que é culturalmente muito diferente daquilo a que estou habituado. Volvidos cerca de cinco meses desde o dia em que foi anunciado o meu destino, irei fazer um balanço daquilo que vivenciei até ao momento, do natural choque cultural que é viver num país do Médio-Oriente e tentarei destacar as competências que adquiri e a relevância que estas terão para o meu futuro.

Este estágio foi desde logo estimulante pela oportunidade de adquirir competências primordiais que me preparam para o meu futuro profissional. A capacidade de adaptação e o espírito de sacrifício são, desde logo, os aspetos mais evidentes. Estas duas componentes são essenciais e estão interligadas. Profissionalmente, tanto a capacidade de adaptação como o espírito de sacrifício são-me postos à prova diariamente, seja pela forma como tento ultrapassar a barreira linguística em contactos com empresas locais, seja pela forma como analiso e investigo ao pormenor a cultura e os costumes sauditas, de maneira a não cometer nenhuma imprecisão ou equívoco em reuniões ou encontros profissionais. Outra competência que tenho vindo a reforçar é a capacidade de planificação. Na Arábia Saudita realizam-se cinco rezas por dia que demoram aproximadamente 40 minutos cada e o horário destas rezas altera sistematicamente, ou seja, tenho de fazer uma planificação diária tendo isto em conta, dado que quando decorre o período das rezas, todos os estabelecimentos são fechados ao público.

Para alguém habituado à cultura ocidental, há inevitavelmente um choque cultural quando se vive na Arábia Saudita. O exemplo que melhor ilustra a complexidade que é viver neste país é o período do Ramadão. Durante cerca de um mês, Riade transforma-se numa cidade completamente diferente. O habitual trânsito caótico deixa de existir, sendo que as ruas se tornam calmas e sossegadas, todos os estabelecimentos alteram o seu horário de funcionamento, não havendo um único estabelecimento que esteja aberto antes das 16 horas. Contudo, as maiores dificuldades que enfrentei durante o Ramadão foram a nível profissional. As empresas sauditas alteram drasticamente os horários de trabalho, e no reduzido tempo que se encontram abertas, a produtividade é manifestamente baixa. Estando no departamento comercial, um cargo que me obriga a entrar em contacto com empresas locais, tive então bastantes dificuldades neste período, tendo efetuado contactos na primeira semana de maio, aos quais só obtive uma resposta em meados de junho, visto que após o mês do Ramadão ainda se segue uma semana de feriados religiosos muçulmanos.

Em suma, tem sido uma experiência exigente estagiar e viver na Arábia Saudita, sendo que me parece claro que sairei daqui com uma maior preparação para o mercado de trabalho e com algumas competências adquiridas e outras reforçadas.