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Duas realidades distintas: a minha e a do país que me abraçou

"Moçambique é um poço de culturas, etnias, religiões e paisagens inesquecíveis": Jéssica Gomes, C23, estágio na SMP, Maputo. Descobre os aspetos que fizeram desta oportunidade uma experiência transformadora.
Duas realidades distintas: a minha e a do país que me abraçou

Jéssica Gomes | C23 | SMP | Maputo, Moçambique

Entrei no aeroporto do Porto com o meu cartão de embarque e o passaporte numa mão, a empurrar um carrinho com duas malas com a outra, e com uma mochila às costas fiz o check-in e dirigi-me à porta de embarque.

Embarquei num avião cheio de pessoas, malas, confusão e barulho, apertei o cinto de segurança e lá fui eu, ainda que meio a tremer das pernas, porque não sabia ao certo o que esperar de um continente diferente, de um país até então desconhecido.

Aterrei em Moçambique, mais propriamente na capital, de seu nome Maputo, uma cidade caótica, suja, confusa, com infraestruturas degradadas pelo tempo e pela falta de manutenção. “Uma desilusão”, pensei eu na minha ignorância, levada pelos comentários de pessoas que possivelmente nunca conheceram este país. Essas pessoas avisaram-me de que a cidade não era segura, que muito possivelmente ia ser assaltada na rua e até na minha própria casa, que não era seguro usar o telemóvel na rua e que nunca devia andar sozinha. Mas que tamanha ignorância!

Momento de brincadeira com crianças locais da Ilha de Inhaca

Moçambique é, efetivamente, um país pobre e onde os assaltos acontecem com alguma frequência, mas afinal isso também não acontece nos outros países? Só temos que ter alguma cautela em algumas zonas, como em qualquer parte do mundo porque, na generalidade, Moçambique é um poço de culturas, etnias, religiões e paisagens inesquecíveis.

O facto de ter tido oportunidade de estagiar num país culturalmente diferente tornou-me mais tolerante, mais paciente, mais mente aberta, aventureira, desenrascada, responsável e humana. Despertou em mim a vontade, há muito escondida cá dentro, de conhecer, aprender, arriscar e experienciar o desconhecido, deixando o receio de parte.

Grupo de crianças de uma aldeia em Bilene, Moçambique. Foto cedida por: Jéssica Gomes

Viver numa cidade em que os transportes públicos são quase nulos e os que existem são “my love” ou “chapas”, carinhosamente designados pela população local, e a minha empresa ser sediada fora do centro da cidade, foi só mais um desafio vitoriosamente ultrapassado. Aqui aprendemos a desenvencilhar-nos, a usar o que temos à disposição e a não reclamar com o que poderíamos ter. Apercebemos-nos de que grande parte da população vive nos subúrbios da cidade, acorda às 4h da madrugada para apanhar 3 chapas diferentes até chegar ao seu local de trabalho às 7h30 e só sai às 17h30 para fazer novamente o mesmo trajeto até casa.

Mungano (amigo) Moisés, um vendedor ambulante nas ruas de Maputo. Foto cedida por: Jéssica Gomes

Aqui o valor das coisas nunca foi a marca da roupa ou do telemóvel, mas sim ter o suficiente para garantir uma refeição. Aqui, as coisas a que estamos habituados que sejam garantidas, como água potável e comida, infelizmente, tornam-se de difícil acesso para muitas famílias.

Neste país que me abraçou, eu cresci muito tanto a nível profissional como a nível pessoal e por isso eu sou agradecida por me terem confiado esta oportunidade.