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Equilíbrios entre o meio rural e o meio urbano nos Países Baixos

O Miguel Macias Sequeira é engenheiro do ambiente e realizou o estágio inov contacto em 2018, em Delft. Durante esse período elaborou esta breve reflexão:
Equilíbrios entre o meio rural e o meio urbano nos Países Baixos

Miguel Sequeira | Ed. 22 | 2018| Lenntech B.V. | Delft, Holanda

Ao sobrevoar os Países Baixos, após a cerimónia do INOV Contacto que associou o meu nome ao destino Delft, reparei imediatamente no vasto mar de estufas refletindo a luz desse dia ensolarado de fevereiro. Mais tarde, no comboio, atravessei vastas pastagens e plantações: a típica paisagem plana do país estendendo-se em todas as direções.

Esta imagem inicial contrariava as minhas pesquisas rápidas dos dias anteriores. A Holanda aparecia como o país mais densamente povoado da Europa, com 17 milhões de habitantes e uma área inferior à de Portugal. A movimentada zona metropolitana de Randstad abrange o Porto de Roterdão, o maior porto marítimo da Europa, e o Aeroporto de Amesterdão, terceiro maior aeroporto europeu.

Por outro lado, devolvia um pouco de credibilidade à minha vaga memória de um artigo que colocava os Países Baixos como o segundo maior exportador mundial de produtos alimentares: resultado notável do mar de estufas e vastas pastagens.

Após vários meses a estagiar e deambular por este país, o seu aparente paradoxo tornou-se mais claro. A população urbana, mais de 90% da população total, aglomera-se nos principais centros económicos e respetivos subúrbios. Estes estão intercalados por zonas industriais e rurais largamente desabitadas.

Dentro do anel de cidades do Randstad encontra-se o Groene Hart, coração verde e agrícola da Holanda, onde me deslocava nesse primeiro dia de estágio no estrangeiro, num misto de excitação e ansiedade.

Pastagens e vacas em Groene Hart, perto de Delft, nos Países Baixos

Os pequenos elementos de ruralidade são bastante apreciados pela população. Os moinhos tradicionais, marcos históricos das cidades holandesas, rodam bucolicamente sobre moradores e turistas. De todos os sentidos surgem bicicletas, num caos ostensivo, mas sem acidentes.

Os canais estruturam a paisagem, repletos de pequenos barcos, aves e, nos raros dias de calor, pessoas. Semanalmente, os mercados invadem as ruas, trazendo vegetais, frutas, queijos e tulipas ao centro histórico. Os jardins periféricos fornecem um espaço para convívio, desporto e afastamento da agitada vida moderna.

Moinhos em Schiedam, cidade perto de Roterdão, nos Países Baixos

No entanto, estes postais rústicos não inibem o desejo de êxodo urbano que se vive nos Países Baixos e noutros países desenvolvidos. A procura de melhor qualidade de vida leva os habitantes a movimentarem-se do centro para os subúrbios e, existindo possibilidade financeira, para as zonas rurais.

Esta nova população semi rural cria os seus próprios negócios, muitas vezes sob a forma de startups agrícolas, com processos altamente especializados. As necessidades biológicas das diversas espécies são analisadas em detalhe, são selecionadas as melhores estirpes e cada parâmetro ambiental é exaustivamente controlado, de forma a garantir o maior nível de produção. Tal permite a um país pequeno e superpovoado exportar excedentes alimentares que rivalizam com os gerados pelos Estados Unidos da América.

Este novo tipo de agricultura, baseado em tecnologia e conhecimento, pode representar parte da solução para alimentar a crescente população mundial.

Mar de estufas a perder de vista, no caminho entre Roterdão e Gouda, Países Baixos.

Neste inesperado equilíbrio holandês, entre urbano e rural, existe pouco espaço para a natureza. Antes da atividade antropogénica, um quinto do território encontrava-se sob a água e, por causa da atividade antropogénica, parte poderá retornar ao fundo de lagos e mares. A expansão urbana, os novos conceitos de agricultura industrial e o aumento da população também ameaçam a sustentabilidade dos Países Baixos.