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Estagiar em Cacuaco: como me confrontei com tantos desafios

O Pedro Morgado é licenciado em Engenharia e Gestão Industrial. Em 2018 integrou o inov contacto, como estagiário na Petrotec, em Cacuaco. Neste post fala-nos desta experiência, distante da zona de conforto da maioria de nós.
Estagiar em Cacuaco: como me confrontei com tantos desafios

Pedro Morgado | 2019 | Ed. 23 | Petrotec | Cacuaco, Angola

Desde o momento em que aterrei em Luanda tentei absorver o máximo e perceber quão diferente da Europa poderia ser Angola. Devo dizer que nada me chocou naquele primeiro impacto.

Quando deixei o aeroporto, na passagem por Luanda, fui desfrutando da paisagem urbana e dos edifícios coloniais mas, quanto mais me afastava do centro de Luanda, mais a paisagem urbana ia mudando e comecei a ver uma realidade diferente, bairros de lata, poluição, lixo arder na berma da estrada, trânsito  desordenado e carros em terrível estado de conservação terrível.

Quando cheguei ao meu destino percebi que a minha realidade ia ser diferente de tudo o que já tinha vivido até aquele dia e confesso que os dois primeiros meses foram difíceis.

Vivi como expatriado, pude morar ao longo dos 6 meses no complexo da empresa, uma área composta por pavilhões, escritórios, estaleiro, zona verde, uma cantina e uma área reservada para habitação, onde cada expatriado tem o seu quarto.

A vida dentro do complexo era um pouco limitada no que respeita aos tempos livros. Para alguém que sempre viveu em total liberdade de movimentos, estar no mesmo sítio muitos dias seguidos não foi fácil, tinha acesso a um conjunto de atividades tais como: o uso do computador pessoal, ver televisão, jogar futebol, ler e correr dentro do perímetro das instalações.

Devido a este modo de vida, tive um contacto reduzido com a comunidade local. No  meu dia-a-dia de trabalho fui confrontado com problemas exteriores que percebi afetarem a comunidade local. Grande parte da população passa por carências, de alimentação a cuidados de saúde, com a agravante da criminalidade ser significativa.  Os angolanos com quem trabalhei alertaram-me quanto ás zonas críticas e limitei-me as minhas deslocações às áreas do complexo onde vivia.

Decidi seguir os conselhos de quem já conhecia os locais e respeitar. De referir que os portugueses aqui tanto podem estar bem integrados na comunidade, como só sair do complexo o estritamente necessário. .

A rede de “transportes públicos” resume-se a carrinhas táxi (candongueiros) inseguras.  Não ter acesso a transporte adequado limitou a minha autonomia e privacidade, uma vez que dependia de alguém/motorista e da respetiva disponibilidade gerou em mim algum desconforto.

Na zona de Luanda escurece às 18 horas, algumas estradas estão em más condições, o que pode originar acidentes e imprevistos como atropelamentos. É nesses momentos temos noção de que as coisas facilmente podem correr mal, que estamos vulneráveis. Portanto, quando precisamos de nos deslocar à noite, é necessário atenção redobrada.

No início da minha estadia no Cacuaco, assisti a uma realidade que nunca tinha encarado, a qualquer altura podia ser abordado por crianças ou adultos a pedir ou a vender na ru mas, ao longo da minha adaptação fui, também, vendo que nem tudo era negativo e aprendi a desfrutar da companhia das pessoas, dos locais, das famosas picadas e mercados de rua (onde se compra de tudo um pouco de tudo).  

Devo admitir que, acima de tudo, Angola foi uma lição de vida, tornando-me ainda mais humilde e resiliente. Esta experiência ajudou-me a crescer pessoal e profissionalmente, a ser uma pessoa mais paciente e a aprender a relativizar os problemas.

Quero ainda deixar o meu agradecimento às pessoas que conheci, externas à entidade de acolhimento, pois sem elas a minha estadia em Angola teria sido muito penosa. Conhecer pessoas fora do círculo de trabalho, é um dos grandes segredos para lidar com o facto de vivermos a tempo inteiro no mesmo sítio onde trabalhamos, uma vez que estarmos com os colegas de trabalho, desde o pequeno almoço ao jantar e, inclusivamente, partilharmos a habitação, provoca algum desgaste em toda gente.

Um sincero e sentido obrigado à família Fernandes, pela maneira incrível como me receberam e por tudo o que fizeram por mim . Obrigado à Márcia, Diva, Joana, John, Carlos Leite, Pedro (inov contacto C22) e Sr. Pinto, pelas boleias, concertos e domingos bem passados na praia.

Um obrigado pela oportunidade à AICEP, a todos os colegas da Petrotec-Angola (em especial aos com quem lidei diretamente) e Petrotec-Portugal.