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“Existe um laço histórico entre Portugal e Timor-Leste que assenta no espírito de cooperação e colaboração entre as duas nações”

A Maria Beatriz Nogueira, licenciada em Direito realizou o estágio do inov contacto em 2019 no BNU Timor em Díli, Timor-Leste. Durante esse período falou com a Anabela Marteleira, Diretora Geral Adjunta deste banco sobre as causas sociais apoiadas por aquela organização.
“Existe um laço histórico entre Portugal e Timor-Leste que assenta no espírito de cooperação e colaboração entre as duas nações”

Maria Beatriz Nogueira | Ed. 23 | 2019 | CGD - BNU Timor | Díli, Timor-Leste

Num país onde as falhas ainda são muitas, torna-se necessário que a ajuda chegue por parte de instituições de maior dimensão. Nos últimos tempos, o Banco Nacional Ultramarino de Timor-Leste (BNU Timor) tem tido um papel fundamental: ajuda quem mais precisa, proporcionando melhores condições aos mais carenciados.

A Anabela Marteleira, Diretora Geral Adjunta do BNU Timor, explica como tudo acontece e fala sobre o laço de cooperação e colaboração que existe entre as duas nações e que torna possível toda esta ‘missão’.

Existe no BNU uma vertente social que permita que o mesmo apoie causas deste cariz?

Desde sempre que a presença do BNU em Timor se pauta por uma forte cooperação no apoio ao desenvolvimento do país, contribuindo para a transmissão de conhecimentos e/ou apoio de causas de cariz social. Assim sendo, a presença do BNU vai para além do apoio financeiro a famílias, empresas e entidades locais. É o reflexo desse apoio às várias iniciativas que têm ocorrido, dentro dos limites orçamentais do BNU e que não passam despercebidas à população em geral.

De que causas sociais se recorda que o BNU tenha apoiado?

Fazendo um apanhado das causas e ações que o BNU tem apoiado antes da minha vinda para Timor e também mais recentemente as que me ocorrem, são os donativos de diferentes tipos que ocorrem periodicamente, sejam eles de mobiliário, eletrodomésticos, equipamentos informáticos e outros. Também quero mencionar a participação do BNU no aniversário da GMN, a televisão local, no âmbito de uma iniciativa de reabilitação de habitações de famílias carenciadas, onde patrocinámos uma dessas reabilitações. Já no que diz respeito à questão da formação, apoiámos o Prémio de Língua Portuguesa, promovido pela Fundação Oriente, que consistiu numa viagem a Portugal para a realização de um curso intensivo de português durante o verão. Também patrocinámos os três primeiros prémios de um concurso para jovens no âmbito da reciclagem, promovido pela União Europeia.

Relativamente aos donativos pontuais de mobiliário, eletrodomésticos e equipamentos informáticos, a quem ou a que entidades costumam fazê-lo?

Ultimamente as entidades e instituições a quem oferecemos mobiliário, eletrodomésticos e algum equipamento informático foram a Diocese de Díli – Paróquia de São Francisco de Assis, em Same, a quem doámos equipamento informático (monitores, teclados e ratos), a Escola EBC Tirilolo, que recebeu um monitor e um teclado, as Madres Canossianas, a quem conseguimos dar frigoríficos, duas estantes e um depósito de água de 5500 litros e, finalmente, a Congregação das Irmãs da Virgem Maria do Monte Carmelo - Irmãs Carmelitas - a quem doámos um frigorífico, uma máquina de lavar a loiça e duas camas.

Há algum motivo específico para as doações serem feitas principalmente a entidades religiosas?

Não existe qualquer regra definida para a atribuição à entidade A ou à entidade B. Tudo depende do tipo de material que temos disponível para oferecer e das necessidades de cada instituição, uma vez que o objetivo do BNU é que os artigos doados tenham utilidade para quem os recebe.

As entidades religiosas aparecem aqui com alguma frequência por várias razões: primeiro, porque Timor Leste é um país onde a religião católica é  expressiva, existindo por isso várias instituições desta natureza dispersas pelos vários distritos; segundo, porque são entidades sem fins lucrativos, de âmbito social e que assentam na solidariedade, funcionando na base da ajuda voluntária; e terceiro, porque nestas instituições as aulas são dadas, maioritariamente ou na totalidade, em língua portuguesa e, considerando que o foco dos apoios, quer financeiros, quer não financeiros, assenta nas áreas de literacia financeira e de apoio à língua portuguesa, faz todo o sentido que seja este tipo de entidades as destinatárias dos bens doados.

Há pouco referiu o Aniversário da GMN, qual foi a ajuda que o BNU deu?

O BNU patrocinou a reabilitação de uma habitação de uma família carenciada. Atribuímos um apoio financeiro no valor de $1.500, que foi utilizado para comprar areia, tijolo e cimento para a construção da habitação.

Tiveram contacto com a família que ajudaram?

Sim, estivemos presentes no momento em que foi entregue o cheque simbólico pelo BNU à família carenciada, que aconteceu durante a cerimónia do Aniversário da GMN, em direto na televisão. Depois, passados alguns dias também estivemos presentes na entrega dos materiais de construção na residência a reabilitar, onde esteve também a família beneficiada.

Acredita que é importante que o BNU apoie estas causas? Qual é o interesse para o banco em fazê-lo?

Claro que é importante. Além de podermos proporcionar melhores condições ao povo timorense, a presença do BNU, como já referi anteriormente, não é meramente financeira. Existe um laço histórico entre Portugal e Timor-Leste que, desde a independência, assenta num forte espírito de cooperação e colaboração entre as duas nações. Sendo o BNU Timor uma extensão da CGD em Portugal, cujo acionista único é o Estado Português, os interesses assumem também uma vertente governamental entre os dois estados.

Pretendem continuar a ajudar estas causas sociais?

Sim claro, desde que se integrem no âmbito da literacia financeira e/ou no apoio à língua portuguesa e que exista orçamento disponível para o efeito.

Por exemplo, estamos neste momento a finalizar a atribuição de um outro apoio à UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosae), que consiste na doação de projetores para as aulas na Faculdade de Medicina.

Considera que, tendo em conta o panorama difícil de Timor Leste, a ajuda do BNU e de outras entidades com dimensão semelhante é uma ajuda preciosa?

Considerando que este país vive em extrema pobreza, qualquer ajuda que exista, seja ela qual for, é certamente muito bem-vinda! Isso pode confirmar-se pelos momentos de alegria que eu própria já presenciei como representante do BNU, aquando da entrega dos apoios aos beneficiários.

Muito obrigada, Anabela