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Na "Parade" mostrámos que a União Europeia é a prova de que podemos ser todos diferentes e defender os mesmos ideais

A Helena Garcia, licenciada em Comunicação, estagiou na Talkdesk em São Francisco. Neste artigo fala-nos de uma celebração única cuja memória vai guardar para sempre: a Parada Gay.
Na "Parade" mostrámos que a União Europeia é a prova de que podemos ser todos diferentes e defender os mesmos ideais

Helena Garcia | Ed. 23 | 2019 | Talkdesk | São Francisco, EUA

28 de agosto de 1951: O Tribunal Supremo da Califórnia determina que os gays têm o direito de se reunir, levando à proliferação de bares gay e à formação de grupos sociais e políticos na comunidade em redor de São Francisco.

Exatamente 10 anos mais tarde, o entertainer e drag queen Jose Sarria foi o primeiro candidato assumidamente gay a concorrer a cargos públicos nos Estados Unidos, mais precisamente, em São Francisco. Em 1977, Harvey Milk é eleito para o Conselho de Supervisores de São Francisco, tornando-se o primeiro governante gay da história da Califórnia.

No início dos anos 70, organizou-se a primeira "Pride Parade" em São Francisco, que contou com cerca de 2 mil marchantes e mais de 15 mil espetadores. Antes, São Francisco já tinha sido casa do fenómeno hippie "Summer of Love”.

Sendo uma cidade de migrantes desde os tempos da corrida ao ouro São Francisco é a cidade da tecnologia e da internet. E, no que toca aos sentimentos, São Francisco é uma cidade do nosso tempo e o amor é aceite independentemente dos géneros.

A "Pride" é a celebração de tudo o que foi conquistado até hoje. É a luta pelo que falta conquistar. É causar e provocar aceitação. Porque nada é tão natural como o amor entre pessoas. E desengane-se quem ache que esta luta é só dos homossexuais. Todos devemos lutar pela liberdade e pelo amor. Lutar pela diversidade, pela diferença. Sem impor. E apesar de São Francisco ter sido uma cidade pioneira no debate e na aceitação, ainda existe um grande caminho a fazer. De ressalvar ainda que, a bandeira arco-íris, símbolo do movimento LGBT nasceu aqui mesmo, na "Pride", em São Francisco.

Por isso mesmo, nos dias 29 e 30 de junho de 2019 celebrou-se mais uma "Pride", que encheu as ruas em volta da Market Street - desde o Embarcadero ao Civic Center, em São Francisco. As pessoas vestiram-se (ou despiram-se) a rigor, a cidade tornou-se ainda mais colorida e milhões não arredaram pé para ver a marcha, que durou das 9 da manhã às 5 da tarde. Abraços, cartazes, aplausos, gritos, música, sorrisos. Nada faltou nesta festa. É bonito ver como toda a cidade está envolvida neste evento. São mais de 200 grupos a marchar, incluindo a polícia, os bombeiros e todas as grandes empresas que têm esta cidade (ou área) como casa: Facebook, Google, Salesforce, Netflix, Uber, PlayStation, e muitas outras. Todas as empresas querem estar presentes. A marcha inclui também grupos de organizações sociais, políticas e mesmo grupos de pessoas anónimas que se organizam para este evento. E é aqui que surge a minha história: há uns meses,  acabada de chegar a São Francisco, encontrei num grupo de europeus no Facebook, uma publicação a pedir ajuda para organizar um grupo que participasse na "Pride". A ideia era juntar todos os europeus a viver em São Francisco interessados em participar. Foi assim que me juntei à organização, às reuniões quinzenais e à ajuda na comunicação para chegarmos ao maior número de pessoas. O Consulado Geral da Irlanda em São Francisco tomou as rédeas da organização, mas todos os países foram bem-vindos e incentivados a levar algo que os epresentasse. A ideia era mostrar a diversidade da União Europeia com uma visão comum: todos diferentes, todos iguais.

Loïc Legland, um dos pioneiros nesta ideia, conta as suas principais motivações; “demonstrar a inegável identidade europeia,  mostrar o progresso europeu nos Estados Unidos e conhecer outros europeus, trabalhar em conjunto e conjugar as identidades nacionais com pertença europeia.”

No dia do evento, juntaram-se entre 200 a 250 marchantes ao grupo europeu, de países como a Áustria, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Inglaterra. Vestidos a rigor em representação do seu país e com elementos comuns da União Europeia e as cores da bandeira arco-íris. Porque, a União Europeia é a prova que podemos ser todos diferentes mas defender os mesmos ideais.

Como participante, achei o ambiente incrível, fervilhante e emocionante. É bonito ver pessoas diferentes a defender algo como o direito de sermos quem queremos ser. Sorri muito, ri muito, cantei muito, abracei muitos desconhecidos. Um dos momentos que vou guardar para sempre foi aquele em que abracei um casal de pessoas de cerca de 80 anos, sentados a assistir à marcha com um cartaz a dizer “abraços grátis”. Quando me afastei do grupo para lá ir, disseram-me que assistem à marcha desde o seu início, que são casados e que "não há nada mais bonito do que o amor”.

Foi uma tarde maravilhosa, com velhos e novos amigos, a celebrar e a defender um direito que devia ser de todos.  É uma sensação única estar no meio de tantas pessoas, tão diferentes, tão livres para serem elas próprias e tão felizes por estarem juntas.